Uma nova escola do absurdo: privatização e leilão de fantasmas na educação pública de São Paulo
- jornalfalaourinhos
- 4 de nov. de 2024
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Em paralelo a essa “necessidade de novas escolas” afirmada pelo governador de SP, Tarcísio de Freitas, a Secretaria da Educação (SEDUC) vem fechando salas, principalmente no período noturno, alegando “falta de alunos”

Por Lucas Rosin
O governo de São Paulo, sob a liderança “visionária” do governador Tarcísio de Freitas e do secretário de educação Renato Feder, decidiu inovar. Enquanto o resto do mundo tenta fortalecer a educação pública, nossa dupla dinâmica entrega escolas para o setor privado.
O plano? Leiloar a construção de 33 novas escolas! E quem venceu a licitação? Ninguém menos que a mesma empresa que, recentemente, mostrou uma “gestão” no mínimo desastrosa do Cemitério da Consolação.
O mais irônico é que, em paralelo a essa “necessidade de novas escolas”, a Secretaria da Educação (SEDUC) vem fechando salas, principalmente no período noturno, alegando “falta de alunos”. Seria cômico, se não fosse trágico. Como podemos explicar o fechamento de salas por falta de matrícula e, ao mesmo tempo, declarar a urgência em construir novas unidades? Só a mesma lógica de mercado poderia responder: estamos criando um “futuro mercado de alunos”. Afinal, é preciso acreditar no crescimento do setor! Mesmo que seja apenas uma questão de tempo até construirmos escolas vazias para depois leiloá-las de novo.
E como uma cereja no bolo, a licitação para o leilão foi vencida por ninguém menos que a mesma empresa que administrava o Cemitério da Consolação em São Paulo com um desempenho no mínimo questionável. Durante sua administração, a operação conseguiu transformar a capela, um espaço destinado a preces e velórios, em um ponto de venda de serviços funerários, deixando famílias indignadas com a mercantilização de um espaço sagrado. Isso gerou protestos formais e evidenciou que a gestão dos cemitérios pela iniciativa privada despreza qualquer compromisso com o bem-estar da comunidade.
Enquanto a SEDUC se perde em contradições, professores, pais e alunos conhecem bem a verdadeira demanda das escolas públicas. Já há tempos se discute – e não se atende – a necessidade de reduzir o número de alunos por sala. Essa é uma demanda que existe, que é real, palpável e que consta no Plano Nacional de Educação (PNE) há anos! Em vigor desde 2014, o PNE reforça que a redução do número de alunos por sala é essencial para melhorar a qualidade do ensino e combater as desigualdades. A proposta do plano envolve a ampliação da infraestrutura escolar e a contratação de professores, o que tornaria possível diminuir o tamanho das turmas e atender melhor os alunos.
Além disso, precisamos destacar a importância do ensino noturno. Muitos alunos desse período ajudam a complementar a renda familiar e trabalham em empregos informais, o que muitas vezes dificulta a comprovação formal de vínculo empregatício, essencial para que possam acessar as aulas nesse período. Essa situação já representa um desafio de acesso; ao fechar salas do noturno, o governo contribui para aumentar ainda mais a desigualdade educacional no país. Esses alunos, que não encontram opções no período diurno, acabam privados de sua única chance de continuidade nos estudos, ampliando ainda mais o fosso educacional.
Ao final, resta uma convocação urgente: é preciso que nos mobilizemos, unidos, contra essas privatizações criminosas que ameaçam nossa educação pública e o futuro das próximas gerações. Essa luta não é apenas dos professores, nem só dos alunos ou dos pais – é uma causa de toda a comunidade escolar e de todos que acreditam em uma educação acessível e de qualidade. É hora de nos unirmos e reivindicarmos o direito à educação pública, gratuita e inclusiva.
A cada sala de aula fechada, a cada escola entregue ao mercado, há um ataque ao direito básico de aprender e de se desenvolver. Precisamos estar juntos, fortalecer a união entre professores, alunos, pais e todos os que defendem a educação pública. A hora de lutar é agora – e é com a força da coletividade que poderemos fazer a diferença.

Sobre o autor
Lucas Rosin é professor de História da rede estadual, conselheiro estadual da APEOESP, militante da TLS (Trabalhadoras e Trabalhadores na Luta Socialista) e presidente municipal do PSOL.
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